Sonhei que observava dois irmãos brincando na calçada da casa dos avós. Um menino de cerca de cinco ou seis anos, e o outro, não mais velho que dez. Eles jogavam alegremente uma bola, como é típico das brincadeiras de criança. De vez em quando, a bola escapava para o outro lado da rua, um incidente comum, mas que fazia o avô dos meninos repreendê-los com firmeza:
— Meninos, tomem cuidado! Isso é perigoso!
O irmão mais velho sempre respondia:
— Foi sem querer, vô. Não vai acontecer de novo.
Mas acontecia. Repetidas vezes a bola cruzava a rua, até que, em uma reação impulsiva, o avô gritou:
— Traga essa bola aqui! Vou rasgá-la agora!
A cena mudou rapidamente. Vi o menino mais velho, agora dentro da casa, entregando a bola ao avô, com lágrimas nos olhos. Mesmo sabendo que era um sonho, parecia que eu fazia parte daquela família. Então, senti a necessidade de intervir.
Dirigi-me ao avô como se ele pudesse me ouvir:
— Quero que o senhor reflita no que está prestes a fazer. Pense no impacto disso. Esses meninos esperaram o ano inteiro para ganhar essa bola. Eles já carregam a dor de terem perdido a mãe para o câncer e o trauma de viverem com um pai violento. O senhor sabe o quanto essa bola significa para eles.
Continuei:
— O senhor, que tem idade e experiência, deveria pensar antes de agir. Rasgar essa bola pode ser a última lembrança que seus netos terão do senhor. Quer que seja uma lembrança de dor?
Enquanto eu falava, percebi que o avô parecia ouvir, mas não me ver. Ele segurava a bola com uma faca na mão, os olhos cheios de um misto de raiva e curiosidade. Por fim, ele cortou a bola.
Os meninos, assustados, pegaram os pedaços da bola do chão e correram para o quarto, chorando. A cena me comoveu profundamente. E, naquele instante, fui retirado daquele lugar.
De repente, me vi em um ambiente que não era claro nem escuro. Estava imerso em meus próprios pensamentos. Não ouvi vozes, mas senti uma mensagem nítida em minha mente, como se viesse de um espírito amigo:
— Parabéns pela reflexão que tentou levar àquele homem. Mas você a usa? Quantas bolas já rasgou? Você sempre pensa com cautela, como pediu para ele pensar?
Essas palavras ecoaram em mim, provocando uma imersão em minha própria consciência. Senti-me confrontado pela minha hipocrisia. Quantas vezes, em momentos de raiva ou desatenção, eu também havia “rasgado bolas”, ferindo os sentimentos de outros sem considerar as consequências?
Quando acordei, a mensagem do sonho permaneceu comigo. Desde então, tenho refletido profundamente sobre meus atos e usando essa lição como um buril para polir minhas imperfeições. A cada dia, busco ser mais consciente, ponderando antes de agir, para que eu não volte a rasgar nenhuma bola.