Biomédico de Alphaville que deformou pacientes é preso

O biomédico Rafael Bracca foi preso nesta quarta-feira (1°), em Brasília, após ação conjunta da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) com a vigilância sanitária. De acordo com o delegado Antônio Dimitrov, Bracca foi preso em flagrante pelo exercício irregular de atividade e venda de medicamentos sem autorização. O g1 tenta contato com a defesa do biomédico.

A ação ocorreu após a verificação pela Vigilância Sanitária do DF de que a clínica do médico já havia sido interditada e, ainda assim, o biomédico continuava atendendo. Uma nova vistoria da Vigilância Sanitária foi feita na clínica, nesta quarta-feira (1°), que constatou diversas irregularidades, como medicamentos anestésicos e antibióticos que não podiam ser ministrados por Rafael Bracca.

Conforme a Polícia Civil, há dois inquéritos que apuram lesões corporais praticadas pelo biomédico no exercício irregular de suas atividades. Nesta quarta (1º), o g1 mostrou o depoimentos de duas ex-pacientes de Bracca, uma de Brasília e outra de São Paulo, que sofreram sérias consequências na saúde após procedimentos estéticos feitos pelo biomédico nas clínicas dele em Brasília e no bairro Alphaville, em Barueri, cidade da região metropolitana de São Paulo (veja mais abaixo).

Bracca oferecia o chamado “Protocolo TX-8” que promete “glúteos redondos, empinados e volumosos”, além do tratamento da flacidez, da celulite e de melhorar a simetria do bumbum. Nas redes sociais, ele afirma que o tratamento é exclusivo e coloca imagens de glúteos de pacientes de antes e depois da aplicação do produto (veja vídeo abaixo).

Clínica interditada pela Vigilância Sanitária continuava aberta
O biomédico Rafael Bracca, de 38 anos, foi preso em

A clínica Bracca, em Brasília, foi interditada pela Vigilância Sanitária no dia 29 de setembro, mas funcionava normalmente no Centro Médico Lucio Costa, na Asa Sul. A Polícia Civil do Distrito Federal e o Conselho Regional de Biomedicina investigam a conduta do biomédico.

De acordo com a Vigilância Sanitária, a clínica está sob ação fiscal desde 2022 e foi interditada pela falta de licença sanitária e por realizar procedimentos invasivos sem o devido licenciamento.

Em fevereiro, a clínica foi novamente autuada, em ação conjunta da Vigilância Sanitária com a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por “não atender a legislação sanitária de segurança do paciente e pela presença de diversos medicamentos sem rotulagem, fracionados sem identificação além da presença de medicamentos proscritos”.

A Vigilância Sanitária diz que a clínica está impedida de realizar procedimentos invasivos e as seguintes atividades foram interditadas:

Atividade estética e outros serviços de cuidados com a beleza
Atividades de procedimentos da área de saúde não especificada anteriormente
Atividades médica ambulatorial restrita a consulta
Mulheres denunciaram biomédico após complicações depois dos procedimentos estéticos
Uma das pacientes atendida na clínica Bracca mostra foto dos glúteos alguns dias após procedimento — Foto: Reprodução/g1
Uma das pacientes atendida na clínica Bracca mostra foto dos glúteos alguns dias após procedimento — Foto: Reprodução/g1

O g1 conversou com duas mulheres que fizeram o chamado “Protocolo TX-8” com o biomédico Rafael Bracca. Elas conheceram o trabalho dele por meio de redes sociais, mas contam que ficaram com as nádegas e as coxas deformadas após intervenções, além de terem sido hospitalizadas.

“Hoje meu glúteo está cheio de varizes e vasos, com muitas manchas. Tenho nódulos, retenção, minha pele deu muito inchaço e retenção de líquido por conta da rejeição do produto”, conta uma das pacientes.
“Eu me sinto uma bomba relógio que a qualquer momento, em que eu sentar ou cair de bunda no chão, vai explodir. Tenho uma doença crônica, não tem como tirar 100% desse produto, é um problema para o resto da vida”, diz outra paciente do biomédico.
A empresária Daniela Pires, de 44 anos, que mora em São Paulo, conta que conheceu Rafael Bracca pelas redes sociais da ex-esposa dele, que morreu em 2018. Daniela fez o “protocolo TX-8” de março de 2022 até fevereiro de 2023, com aplicações mensais e quinzenais.

Ela gastou cerca de R$ 30 mil com os procedimentos. No entanto, conta que depois da primeira sessão, a pele apresentou manchas, bolhas e que sentiu muita dor.

Daniela acabou internada em um hospital por 16 dias, e depois contou com mais 20 dias de homecare. Segundo os médicos, ela teve uma infecção por produtos exógenos.

Além disso, a empresária diz que ficou com problemas renais e que está sendo acompanhada por nefrologistas e infectologistas. Ela, que treina há 10 anos, não consegue voltar para a academia.

“A sensação é de ser cobaia de um psicopata. Parece que eu levei um golpe, depositei a minha confiança em uma pessoa que é narcisista, está mutilando as mulheres e sabe dos efeitos que dá. Ele não para, continua, finge que não é com ele. Ele teve coragem de falar pra mim que estava jejuando e orando por mim”, diz Daniela Pires.
Outra paciente que teve problemas após o procedimento é a empresária Nathália da Silva Teixeira, de 39 anos, que mora em Brasília. Ela, que também conheceu a clínica de Rafael Bracca pelas redes sociais, começou o tratamento em novembro de 2022.

“Ele disse que por ser um produto natural, bioidêntico, as chances de intercorrência não existiam. Ele vende o tratamento como se não tivesse chances de dar errado, você compra achando que é quase natural e que não tem chances de dar problema”, diz Nathália.
A empresária, que comprou o tratamento para glúteos e coxas e também um tratamento hormonal gastou cerca de R$ 21, 6 mil na clínica. Depois dos procedimentos, Nathália passou a ter febre, dores e inchaço e, ao buscar um hospital foi diagnosticada com celulite bacteriana.

Ao todo, ela somou 75 dias de internação, divididas em quatro períodos. Durante 12 dias ela ficou em uma UTI.

O que diz o biomédico Rafael Bracca
O biomédico Rafael Bracca explica em suas redes sociais os produtos usados no protocolo.
O biomédico Rafael Bracca explica em suas redes sociais os produtos usados no protocolo.

Na terça-feira (31), o biomédico conversou com o g1 e disse que já atendeu mais de 400 pacientes e que algumas podem sofrer intercorrências. “Todas as substâncias que têm na clínica são lícitas e estão registradas na Vigilância Sanitária”, afirmou.

Ele disse também que une os conhecimentos do curso de Nutrição e de Biomedicina para tratar as pacientes. “Injetáveis são de nutrientes. Pacientes são tratados com nutrição, não com droga e medicação”, diz Rafael Bracca.

Segundo o biomédico, depois que as mulheres deixam de realizar o tratamento em sua clínica, elas são responsáveis.

“Fico muito triste porque não queria que isso acontecesse, tem relação direta com imprudência da paciente e o fato dela não aparecer nas datas combinadas para que pudesse ser tratada na forma correta. […] Eu me sensibilizo com as pacientes, inclusive, jamais as portas estarão fechadas e o que precisarem de mim vou estar a disposição”, disse o biomédico.

Fonte: G1

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